quinta-feira, 11 de novembro de 2010

LUTHER KING

LUTHER KING

Movimentos de resistência contra a dominação sempre existiram e passaram a se multiplicar e a ter expressão em todo o mundo. Vários nomes se destacaram ao longo da história, na luta contra a discriminação, dentre eles, citaremos o de Martin Luther King Jr.
Luther King foi grande porque traçou como limite de sua luta a paz mundial. Homens como ele não nascem a todo momento e poucas são as gerações que tiveram a sorte de ter presenciado em vida a luta de pessoa tão esclarecida e de tamanho grau de consciência política e humana.
Na ocasião do recebimento do Prêmio Nobel da Paz, em 10 de dezembro de 1964, ele assim expressou seus objetivos:
"Eu tenho a audácia de acreditar em um mundo onde pessoas de todos os lugares do mundo possam ter três refeições por dia para seus corpos, educação e cultura para suas mentes e dignidade, igualdade e liberdade para suas almas. Eu acredito que o que o homem egoísta pôs no chão, o homem do bem pode reconstruir. Eu acredito que um dia a humanidade irá se curvar perante o altar de Deus, triunfante sobre a guerra e o derramamento de sangue, e a salvação não violenta dos bons costumes irá então ditar as regras da terra." [2]
A primeira atuação de Dr. King na luta pelos direitos civis nos EUA, ocorreu em defesa de uma respeitada senhora negra de sua comunidade que foi presa por se recusar a ceder seu lugar no ônibus a um branco que não tinha onde se assentar. De acordo com a lei daquele estado, quando um branco entrasse em um ônibus coletivo e não houvesse lugar para ele se assentar, os negros que estivessem acomodados deveriam se levantar para dar seu lugar a ele. Dr. King organizou então uma manifestação, onde convenceu toda a comunidade negra a não mais utilizar o transporte coletivo, até que as leis fossem modificadas. Muitos seguiam caminhando ou de carro para seus trabalhos o que causou enorme prejuízo às empresas de transporte, que foram obrigadas a ceder, pressionando o estado a revogar tal lei.
"A prova de fogo para se medir o caráter de um homem não é saber onde ele se encontra nos momentos de conforto, tranqüilidade e conveniência, mas sim onde ele está nos momentos de mudança, tensão, conturbação e controvérsia. O verdadeiro vizinho irá arriscar sua posição social, seu prestigio e até sua vida para o bem estar dos outros. Nos lugares perigosos e nos caminhos inseguros, ele irá ajudar algum homem ferido, ou machucado a se levantar para uma vida mais nobre e digna." [3]
Ao questionar esse tipo de lei, ML foi chamado de desordeiro, agitador, etc. No entanto, respondeu às criticas dizendo que apesar dessas leis pregarem a discriminação, a constituição americana garantia a ele o direito à igualdade. Ele não seria, portanto, obrigado a seguir leis que contrariassem a Constituição. Se tivesse de respeitar alguma lei, essa lei seria a constituição. Citou Santo Agostinho que dizia que uma lei injusta não seria uma lei realmente. A lei justa seria a que segue princípios morais ou de Deus, qualquer lei que degrade um ser humano injustamente, para ele, não poderia ser chamada ou obedecida como lei.
Com apropriada razão, ele esclarece que uma injustiça em algum lugar do país, será sempre uma ameaça à justiça de todo o país. Para ele, as pessoas estariam amarradas em uma veste única do destino e todos os cidadãos americanos estariam de tal maneira entrelaçados que, o que afeta a um diretamente, estará sempre afetando a todos indiretamente.
Foi na ocasião de sua prisão por outro protesto pacífico em Birmingham, sul do EUA, que Luther King Jr. escreveu a carta "The Negro is Your Brother", onde descreveu a filosofia do movimento criado por ele naquele país. Afirmou nessa ocasião que a verdadeira "paz social" não poderia ser encontrada naquela sociedade onde não existissem tensões ou conflitos sociais, mas, sim, naquela que reconhecesse e privilegiasse a verdadeira justiça social entre seus cidadãos. Ausência de conflitos e silêncio social nunca foram, para ele, sinônimos de justiça social.
Os negros americanos propuseram-se enfrentar o problema racial de forma organizada, aberta e direta. O inimigo nos EUA, tornou-se então, na maioria dos casos, um alvo visível, que começou a ser devidamente combatido. Ao contrário do que acontece aqui no Brasil, onde as pessoas disfarçam todo o seu preconceito sob uma fina máscara de democracia racial, elementos históricos e culturais levaram os afro-descendentes da América do Norte ao confronto direto contra esse terrível mal.
No Brasil, a inquietação social criada pelos movimentos dos "sem teto" e "sem terra" vem nos lembrar, diariamente, que, apesar da falta de conflitos étnicos de maiores proporções, estamos ainda longe do chamado estado de "paz social".
Ainda para refletirmos, o maior líder negro americano, nessa brilhante obra escrita a mão em uma cela de cadeia, revela de forma convincente, intrigante e surpreendente, não serem a "Ku Klux Klanner" ou a "White Citzens Councillor" os piores inimigos do movimento negro americano e sim, aqueles cidadãos brancos, moderados, que dão maior atenção e importância à "ordem" em suas cidades do que à "verdadeira justiça".
Indignado, ele completa seu pensamento dizendo que não suporta ouvir das pessoas de boa conduta, que elas concordam com os argumentos do movimento negro, mas que não concordam com seus métodos não violentos e com o momento da ação, repetindo sempre para os oprimidos: "esperem uma oportunidade melhor para agir", como se pudéssemos marcar hora para a libertação de um ser humano que se encontra acorrentado e acuado em seu perverso cativeiro social.
Segundo ML, nenhum movimento pode esperar por uma tabela de horários dada pelo opressor para reivindicar direitos. Esse "espere" soa como "nunca" porque para ele, justiça adiada por muito tempo é justiça negada. Dizia que, pior do que ter de suportar as ofensas e conviver com elas e com a falta de compreensão declarada das pessoas de má índole, é ter de conviver com o silêncio das pessoas de boa índole.

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