quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Negros são apenas 33% na escola privada


Um terço dos alunos matriculados no ensino fundamental e médio de escolas particulares que declararam a etnia se considera negro (inclui a classificação "preta e parda"). Já nas escolas públicas, esse índice ultrapassa a metade, chegando a 56,4% dos estudantes.

No entanto, esse terço de negros declarados da rede particular não chega perto da proporção dessa etnia entre a população de crianças e jovens de 5 a 24 anos. Já a pública ultrapassa a média nacional. Nessa faixa etária, segundo o IBGE, 48% dos brasileiros se dizem pretos e pardos (essa é a terminologia adotada pelo instituto).

A etnia dos estudantes foi levantada pela primeira vez no Censo Escolar 2005, feito pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
O órgão inseriu no questionário respondido por pais e alunos o item "raça/cor". Apesar de optativa, a autodeclaração gerou polêmica, levando cerca de 20% a não se pronunciarem.

Há uma semelhança entre as redes privada e pública, segundo o censo. O percentual de alunos pretos e pardos não varia muito entre ensino fundamental (1ª à 8ª série) e médio.

Nas escolas particulares, 34% dos alunos do fundamental que declararam a etnia disseram ser pretos e pardos --cai para 30% no médio. Já na rede pública, o índice é de 60% e 57%, respectivamente.

Para Tânia Portella, assessora de pesquisa da Ação Educativa, um dos fatores que podem explicar os índices da rede pública é a universalização do ensino fundamental a partir da década de 70. Isso gerou uma demanda pelo nível médio, que começa a ser suprida. Nas particulares, o percentual é considerado baixo, refletindo diferenças sociais e discriminação.

A diretora de Estatísticas da Educação Básica do Inep, Maria Inês Gomes de Sá Pestana, pondera que o boicote ao questionário pode ter contribuído para a pouca diferença entre fundamental e médio. Isso porque outros estudos já apontaram o "embranquecimento" na educação, ou seja, os negros entram na escola, mas não conseguem avançar nos estudos.

É também no ponto da permanência que o professor Marcelo Paixão, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foca a análise. "Não adianta simplesmente dizer o percentual de negros. Aparentemente pode ser bom. A questão é a diferença de aproveitamento ao longo da vida escolar."

O professor lembra que, à medida que os negros avançam nas séries, sobe a distorção da idade adequada. Enquanto 53% das crianças brancas de dez anos estavam na série ideal para a idade, só 35% das crianças negras se encaixavam no perfil.

A distorção sobe aos 17 anos --32% dos jovens brancos estavam na série adequada, contra 13% dos adolescentes negros.

A professora Regina Vinhaes, da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília), diz que o resultado do Censo Escolar vai ao encontro de um tema cada vez mais debatido: qualidade do ensino público. "Mostra que a escola pública tem cumprido o caráter de permitir acesso a todos, independentemente de cor, religião. Mas aponta a responsabilidade que tem. Precisa ser um local de construção de cidadania", afirma Vinhaes.

Segundo Tânia Portella, da Ação Educativa, o fato de haver mais de 50% de alunos negros na rede pública não significa inclusão. "Incluir na educação não é apenas matricular, mas também ofertar garantias de permanência, qualidade de ensino e possibilidade de prosseguir a vida acadêmica."



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